Remédio para doenças reumáticas pode ser eficaz contra diabetes tipo 2
Diacereína deve ser testada em pacientes com a
doença até final do ano.
Base para descoberta foi efeito da aspirina contra a resistência à insulina.
Um remédio utilizado para o tratamento de doenças
reumáticas pode ter efeito benéfico na diminuição da resistência do corpo à
insulina, sintoma que pode desencadear diabates tipo 2. O remédio não
apresentou efeitos colaterais notavéis durante, pelo menos, um ano.
Conhecido como diacereína, o fármaco é utilizado
normalmente no tratamento de doenças reumáticas, porém Natália Tobar,
pós-graduanda na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), conseguiu empregá-lo em ratos para reduzir a resistência do
organismo das cobaias à insulina. A substância é responsável por transferir a
glicose para dentro das células.
A droga, de origem vegetal, tem efeito
anti-inflamatório. Dietas ricas em gorduras saturadas como carne de porco e
leite acarretam inflamações subclínicas, mecanismos que pioram a absorção de
insulina e aceleram a aterosclerose, doença caracterizada por placas chamadas
ateromas nos vasos sanguíneos.
"Com a inflamação, o organismo tenta
acompanhar a demanda maior por insulina, mas uma hora o pâncreas não
aguenta", explica Mário José Abdalla Saad, orientador da tese de mestrado
da médica e livre-docente em clínica médica na Unicamp.
Solução
Disponível desde a década de 1990 no Brasil, a diacereína poderia ser uma opção
barata e eficaz para uma pandemia que afeta, pelo menos, 5% da população
mundial. "No Brasil, o medicamento não pode ser caro pois irá beneficiar
apenas a parcela pequena da população", afirma o médico. " A ideia é
desenvolver uma pesquisa com efeito científico e social."
Caso um medicamento seja desenvolvido a partir dos
estudos clínicos, seria um complemento ao uso de metformina, principal droga de
combate ao diabetes tipo 2. "Doenças crônicas complexas como hipertensão e
diabetes precisam de uma associação de substâncias para serem
enfrentadas", diz Mário Saad.
Do
laboratório às prateleiras
Muito antes de chegar às farmácias, a equipe de Mário Saad e Natália Tobar
precisa passar por mais etapas.
"É uma pesquisa experimental, testada em
animais, uma tese de mestrado que será defendida em setembro, o estudo ainda
não está publicado", diz o especialista em clínica médica. "Queremos
pacientes obesos e diabéticos com esse remédio na Unicamp e já levamos o estudo
para aprovação de um comitê de ética da universidade."
No Brasil, o
medicamento não pode ser caro pois irá beneficiar apenas à parcela pequena da
população. A ideia é desenvolver uma pesquisa com efeito científico e
social"
Mário José Abdalla Saad,
livre-docente
Os testes em humanos, em uma fase chamada prova de
conceito, deverão acontecer entre o final de 2010 e o começo do próximo ano,
caso receba aval da Faculdade de Ciências Médicas da instituição de ensino
estadual em Campinas (SP).
"Serve para reproduzir em humanos o padrão
observado em animais", explica Mário. "Vinte pessoas, dez com placebo
e dez recebendo a droga, são suficientes para a verificação."
Pode ser um caminho para o Ministério da Saúde
financiar estudo posterior, com número maior de pacientes com diabetes tipo 2.
"Isso é do interesse do sistema de saúde, são casos de uma droga
existente, que pode ser barata para venda no mercado farmacêutico", afirma
o especialista.
Aspirina
O efeito da inflamação de vias de insulina no corpo humano começou a ser
combatida, há 20 anos, com estudos usando o ácido acetilsalicílico, outro nome
para a aspirina.
O medicamento, comum no tratamento de dores de
cabeça, também melhora a sensibilidade à insulina, porém somente com altas
doses que levam a efeitos colaterais como zumbidos no ouvido e
sangramentos gastrointestinais.
"A aspirina foi uma ferramenta usada para
provar um conceito: se você bloquear a via inflamatória, bloqueia o
diabetes", afirma Mário Saad.
Dieta,
exercícios e terapia
Para o médico, a melhor receita para impedir o desenvolvimento de diabetes tipo
2 continua a ser uma combinação de dieta balanceada e rotina de exercícios.
"Nós [médicos] sabemos que é difícil, o remédio serviria para aqueles que
não conseguem dar conta de comer bem e se movimentar, para evitar esse risco de
diabetes", diz o médico.
Encarada a princípio como um medicamento
terapêutico, a diacereína também pode representar uma forma de prevenção à
doença. A crescente população com glicemia entre 100 e 125, faixa considerada
como propensa ao desenvolvimento de diabetes tipo 2, seria um dos principais
alvos do emprego da droga.
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